quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Bolero de Ravel: Tensão Dialética entre a Idealidade e a Realidade



Ouvindo a peça musical Bolero de Ravel minha consciência não foi afetada somente pela beleza estética desta obra de arte! Beleza que produziu em mim um certo êxtase de valor inefável. Ao ouvi-la meus sentidos sentiram um gozo e satisfação estética formidável.


Sim, não foi somente meus sentidos estéticos que foram afetados... Ao ouvir a música, a melodia da mesma, em seu constante eterno retorno e ritmo invariável e uniforme, foi se manifestando à minha consciência como se fosse um espectro fantasmagórico que a cada repetição ia ganhando solidez até se tornar como algo totalmente concreto diante dos meus olhos.

Eis que esta música afetou minha Razão de tal forma que apreendi na diversidade de toda aquela repetição a Essência Melódica. Diversidade esta, manifesta ora através dos sons de instrumentos de sopro, ora por meio dos sons dos instrumentos de corda, ora até mesmo por intermédio dos sons das vozes imitando as notas musicais. Eis que foi não somente sublime e belo, foi também inteligível. Porém, um inteligível ininteligível.

A melodia repete e repete várias vezes. Ela é a mesma sempre. Sempre no mesmo ritmo invariável. Teimoso! Persistente! Eloquente! E a cada vir a ser da mesma Idéia melódica, uma Existência Sonora totalmente Singular e Particular ganha Vida! A mesma idéia, tocada em tonalidades diferentes, por meio de instrumentos diferentes, aparece a cada instante de modo totalmente novo e irrepetível. Aparece como sendo uma realidade particular incomparável e altamente individualizada.

Eis então, nesta peça musical, a dialética da essência com a existência em que: o Um torna-se Muitos, o Eterno torna-se Temporal, o Mesmo torna-se Outro, o Ideal torna-se Real, o Universal torna-se Particular. E em toda a diversidade da aparição repetitiva desta pequena melodia, apreende-se então o Paradoxo Absurdo do Intelecto que concebe versus a Sensação que percebe. Absurdo porque não é possível realizar a síntese, ficando o reino do Intelecto em tensão constante com o reino da Sensação.

Enfim, o Bolero de Ravel gerou em mim não somente um sentimento e prazer inefável, mas também a captação inteligível da Absurda Razão. Eis que o Belo é Ilógico! Eis que a Idéia é Absurda! Pois como pode ela ser e não ser si mesma? Ahhh, isto vai contra as leis inexoráveis da Lógica! A Melodia existe. Ela está em todas as repetições. Porém, nenhuma das repetições é ela.

Johannes, em contemplação absurda da Beleza do Mundo.

4 comentários:

Espinho de Quiabento disse...

O texto soa como a música... agradabilíssimo. Parabéns.

Anônimo disse...

Há muito tempo não lia um texto desse gênero. A sua sensibilidade encanta! como sempre: Parabéns! bjs
Carla Laforgia

Sophia disse...

“Ao ouvi-la meus sentidos sentiram um gozo e satisfação estética formidável”
Imagine então qual é a sensação de ouvir o musical lendo este texto?
Digo-lhe, é de algo indescritível. Regozijei com o esmero do conjunto que (me apossando de suas palavras) é formidável!

Lunnäe Psï disse...

Seu texto de certa forma, Constantin, trouxe-me o balanço da sonoridade dessa canção, não sei se foi proposital, mas quando o li (ouvindo a musica) parecia que ,seus versos e a musica, eram um só. É estranho, as palavras pareciam que estavam presentes na canção o tempo todo. De certa forma, a melodia cantava suas palavras, acho que enquanto eu percebia suas palavras na canção, foi no exato momento em que concordava completamente contigo!

Parabéns.
Análise fantástica!