terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Fado de Sísifo


Em seu olhar, o brilho opaco da salvação,
Em seu rosto, a realidade da doce loucura,
Em suas pernas, o esforço fatigante àquela altura,
Em suas mãos, o empurrar uma pedra em vão!
E em vão, vão-se os dias e ele naquela labuta,
Numa guerra, em que se trava uma inútil luta!
E que luta! Luta absurda! Luta perdida! Perdida a priori!
Mas, em su'alma, a esperança irracional a posteriori.
Enfim, o regozijo de ver a pedra no ponto mais alto da montanha.
Trabalho feito! Desfeito! Eis a pedra rolando ao pé do monte.
Enfim e que fim! Agora não mais é regozijo, mas prejuízo!
Em suas mãos, o nada de nenhuma tensão,
Em suas pernas, o movimento leve da descida,
Em seu rosto, a idealidade amarga da razão,
Em seu olhar, a opacidade brilhante da perdição!

Amens, Ilúcido na Plenitude da Razão!

4 comentários:

Carlos de Thalisson T. Vasconcelos disse...

Em minha opinião, não há luta alguma que seja inútil. Há sempre uma utilidade para a pior das coisas, e é até bem prático facilitar as coisas. Mas o texto está bom. Bom.

Anônimo disse...

Lindo escrito, amigo!
É, a vida é mesmo isso: muita labuta, acompanhada de frustração e conflitos (razão x emoção).
Não conheço o "Fado de Sísifo", mas se for de acordo com sua descrição, é bem genérico.

Beijo

Espinho de Quiabento disse...

Empenhar um grande esforço para fazer subir até o alto de uma montanha uma grande carga, para no fim vê-la rolar montanha abaixo é uma imagem desesperadora. O texto mexeu comigo... Não conheço o mito, e não critico Sísifo, contudo, a vida real não é para heróis, por isso eu faria diferente. Grandes tarefas exigem mais do que grandes homens e mulheres, exigem homens e mulheres trabalhando juntos, para que no final, mesmo que a pedra se perca num desfiladeiro diante de seus olhos pasmados, reste a experiência do esforço coletivo... De qualquer forma, excelente texto, disparou a espoleta da reflexão na minha caixola.

Sophia disse...

É Espinho de Quiabento, não tem como ler um texto desses e não se sentir tocado, reflexivo. Isto, porque estamos sempre fazendo, desfazendo e refazendo... E essa é a grande dádiva na vida!

“Trabalho feito! Desfeito! Eis a pedra rolando ao pé do monte.”

Fantástico!