quinta-feira, 8 de abril de 2010

O cair da noite.

Escurecia lá fora. Os últimos raios de sol se escondiam no horizonte. Aos poucos a luz ia deixando o mundo. Eu podia ouvir os sons do dia morrendo, como o final de uma música antiga. Eu desliguei a TV, mas não acendi as luzes. Preenchi a pequena sala com o som do meu violão. Acordes menores, claro, era o que o momento pedia. O gelo derreteu em meu copo intocado. Só bebi seu conteúdo após o final da música.

Nessa altura outra luz se fazia presente. À luz clara e brilhante do sol somava-se fraco brilho amarelado dos postes de iluminação. Eu me aconcheguei mais no meu sofá. Os sons da rua mudavam. As buzinas dos carros iam sendo substituídas pelos resmungos desconexos de um bêbado. A fofoca das donas de casa, pelo dramalhão das televisões. Meus pensamentos vagavam por cenas do passado.

O dia chegava ao seu fim sem marcar sua presença. Apenas mais um na sucessão de dias que era minha vida. Era chegada a hora. Não houve hesitação ou medo. Nem choro ou desespero. Os vizinhos não acharam nada estranho. Os sons, já comuns e velhos conhecidos, receberam uma visita inesperada. Espalhafatosa, é verdade, mas não chegou a chamar atenção.

Um calor agradável se espalhou pelo meu corpo, lentamente, como um aquecedor velho que briga com o frio. O silêncio me envolveu logo depois, como o abraço de um velho amigo. Um leve sorriso dançou em meus lábios, quase imperceptível para qualquer observador casual. Por último, as luzes se apagaram. O horizonte enfim vencendo sua luta contra o sol.

E lá no fundo eu não sabia se já era noite, ou se a noite era eu.