quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sou o ENTE que mora na tua IMAGINAÇÃO

Eu sou uma pura abstração de ser.
Sou fumaça que escapa do nada.
Pura aparência de um aparecer.
Calor d'uma vaporação saturada.
E nada, do nada, para nada,
É onde, de onde, para onde,
Tudo se concilia e se converge
Formando uma substância fantástica
Constituída pela ação da tua imaginação
Guiada com a regra da fria Razão
Ou pela anarquia do insano Coração.
E em vão, é querer me tornar são,
Pois no oceano profundo da indistinção,
Não há diferença de conotação.
Não sou isto,
Nem sou aquilo,
Sou isto ou aquilo.
Sou matéria de uma forma desvanecida,
Que esvara por teus in-sentidos imaginários,
Dando-lhe o gozo de uma faustiva esperança,
A presença in-sólida de um louco sonho,
Ou então, a dor aflitiva da perdição,
A ausência sólida de uma lúcida chaga,
Que faz gemer a alma na antecipada solidão.
Não sou dor,
Nem sou in-dor,
Sou dor ou in-dor.
Sou a figura fantasmagórica do irreal
Que afeta a tua estranha realidade.
Sou o ente que habita perenemente
No interior da sombra de tua mente
Resido nos castelos de sonhos da Esperança.
Ou então nos calabouços trágicos da Angústia.
Enfim, sou teu e para-ti no impertencer,
Pois sou o nada real de tua rica mente!

Constantin Constantius.

domingo, 17 de maio de 2009

Jurisprudência








Vou pedir uma indenização por cada lágrima
E como, eu poderia saber?
Por que essa mudança agora?
Por que não em outra hora?

Iria eu poder processá-lo?
Por incentivar a tolice se nada ter feito?
E quem iria me advogar neste pleito?

Esse é aquele tipo de causa perdida
Não se pode entrar com recurso
Mudar um discurso e tudo ser igual

Acho que o ideal seria a terapia
Numa base de utopia “curar” completamente esse mal
Não poderia haver vingança
Relatar apenas as lembranças para o meu “Doutor”

E com isso esqueceria as ciências jurídicas
E entenderia minhas “patologias” como “normais”
Quem sabe assim mudaria de área
Numa felicidade encontrar tranqüilidade na soma exata
Porventura outro ramo humano
Para deixar meu coração menos tristonho

Passado o fardo e os meus pré-julgamentos
Lembro que a base de toda a realização
Está na importância desse autor
De traduzir dores tão sofridas relacionar com a vida
E nada sobrepor.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Mordida na maçã do tempo.

“Com quantos quilos de medo se faz uma tradição?” (Tom Zé)

“O tempo andou mexendo com a gente sim” (Belchior).


A maçã foi mordida, lembrou-me a moça. Tocou assim, com unha vermelha, a carne aberta e ferida de uma memória amassada. O espírito de passado reavivado é cativo destas coisas ditas, que como pequenas pedras, nos ferem os pés. O incômodo é agudo e o corpo – gruta escura das lembranças – guarda no fundo da água do espírito, o que não foi vomitado de indignação. Não culpo a moça, que assim desdenhosa de meus tormentos morais, simples e espontânea me disse: “Minha relação é mais aberta que a minha janela”. Mas suas palavras - faca no lençol do tempo - deixaram cair assim aos trambolhos um monte de roupas sujas. Vendo aquela bagunça, saída dos porões do meu tempo, e agora escancarada às vistas de quem quisesse espiar intimidades, caí em arapucas da cuca, prendi o pé no visgo da memória: Pode! Não Pode! Você não Pode Poder! Você não Pode! O pudor? Você é despudorado! Ouço isto desde pequeno, ouço quando isto é falado! Ouço quando o que fala é a mudez! Ouço quando quem fala é o padre! Ouço, ouço também minha mãe, em cem bocas ouço a minha mãe, a mesma cantinela e a sandália em riste. As pessoas gostam mesmo de jogar rótulos na cara dos outros. Gostam mesmo! Até gozam com isso! Assim, por prazer, como quem joga no mal palhaço uns tantos quantos tomates, vaias e bolas de papel. Você não é fiel! Você me traiu! Você me ama! Você é um covarde! Você é meu! Você é profano! Você! Você! E as frases reverberam pelos corredores invisíveis de largos significados. O problema não é fazer palavra. O problema é fazer uma cerca na palavra e dizer: Daqui até ali é certo. De lá em diante se erra. A cerca que me implantaram na alma é dura de atravessar. Do outro lado tem jagunços, com os dentes muito firmes e um dedo no gatilho. Tenho medo de bala nos peitos. Tenho um medo revolucionário de dizer, Olha, não nos matemos de enquadramento, dói demais em mim estas retas. Tenho um medo revolucionário de levar estas cercas na raça, de ocupar de pirraça o não-sentido, o errado. Tenho medo, não vou mentir, carrego o tempo nas costas, mas quem sabe? Quem sabe um dia desses o fardo me pesa mais do que o suportável? Aí, ou caio sem forças, tonto e resignado, ou grito e enfrento tiro com coração e palavras.