terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Fado de Sísifo


Em seu olhar, o brilho opaco da salvação,
Em seu rosto, a realidade da doce loucura,
Em suas pernas, o esforço fatigante àquela altura,
Em suas mãos, o empurrar uma pedra em vão!
E em vão, vão-se os dias e ele naquela labuta,
Numa guerra, em que se trava uma inútil luta!
E que luta! Luta absurda! Luta perdida! Perdida a priori!
Mas, em su'alma, a esperança irracional a posteriori.
Enfim, o regozijo de ver a pedra no ponto mais alto da montanha.
Trabalho feito! Desfeito! Eis a pedra rolando ao pé do monte.
Enfim e que fim! Agora não mais é regozijo, mas prejuízo!
Em suas mãos, o nada de nenhuma tensão,
Em suas pernas, o movimento leve da descida,
Em seu rosto, a idealidade amarga da razão,
Em seu olhar, a opacidade brilhante da perdição!

Amens, Ilúcido na Plenitude da Razão!

domingo, 25 de janeiro de 2009

Espelho Mágico da Reflexão

(Composição poética à amada Consciência Tética*)

Contemplo este espelho mágico
Que se põe diante de mim
Como sombra que me acompanha
E que somente descansa
Nas trevas mais escuras d'alma,
Onde o Nada que sou reina absoluto!

Mas no brilho d'alma translúcida,
Captura de modo incessante,
Em todo eterno instante
Cada movimento do que sou
De minha inessência original
Hipostasiando todos fragmentos,
Que se desfragmentam em reflexos,
Formando um substrato, nem bom, nem mau,
Que apenas obedecem seus nexos.

De forma ilogicamente lógica
Numa constante dança dialética
Vai operando uma síntese ontológica,
Sempre, da sobra do que restou
Da subtração do nada que sou
Mas, sobras de onde sempre estou.

Eis a magia deste espelho
Engana-me fazendo pensar
Que se penso, então logo existo
Mas, nem por isto subsisto
Pois cada imagem refletida, escolhida
Vai a cada instante ganhando vida
E viva! Faustiva! Cada imagem me diz,
Com voz leve e silenciosa:
Ich bin nicht Sie! Sie sein nicht ich!**

Alienus, constantemente para si!

*Consciência Tética é a consciência que coloca diante de si mesma a consciência que tem do mundo, que envolve a própria consciência de si.
**Tradução do alemão: Eu não sou você! Você não é eu!

domingo, 11 de janeiro de 2009

Dia de sol e mar: desventuras de um barquinho solitário.

Domingo é dia vazio: abre espaço no peito para a vez da crise, erra o leme que de certo entende o des-norte. Neste barquinho simples, estamos sempre buscando um canto, um lugar autêntico: um lugar nosso? Para uma viagem tranqüila, um caminho para uma ilha, um recanto de repouso, paz e felicidade. Ah... mas o barco que nos guia, em mar, vento e desventura, não é experiência de dentro que realizamos fácil e doce como em sonho. Este mar nós dividimos, e há os esfarrapados, os descabidos no mundo, que se penduram, sobem por força, temendo a fome e a morte, fazem pela insistência balançar o bote – nossa propriedade privada. Nós, do centro de nosso recanto existencial, aprendemos a raiva a estes que não tendo barco querem nos ocupar, nutrimos assim o bicho estranho da posse (com ração e Jornal Nacional), que nos faria derrubá-los e matá-los a pau, não fosse o estado, a justiça e a polícia, que servem para dar cabo destes vis, mas, supostamente justificados impulsos. Domingo é dia vazio, nos faz desgarrar o leme, é dia vazio de porta aberta, por onde entram incertezas, elas, quem sabe? Nos levarão ao fundo do mar, agarrados aqueles que não têm barcos existenciais a vagar num dia de domingo. Será que enfrentando as ondas no braço e no peito, ladeando o desespero dos que lutam pela vida, não nos ocorre que a busca pela felicidade em ilhas de prateleiras, romances e propagandas, se aproxima à busca de um tesouro perdido. Não fala a TV que o precioso tesouro não está em mercadorias, mora, ao contrário, perdido nos valores, de nos estranharmos barcos solitários, e reconhecermos que estando nos barcos ou fora deles somos a humanidade que navega para a recriação ou para o fim.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Reação?

Parecia tão sozinha,
Suplicando atenção...
Por sua vida pregressa
Queria se confessar.

Meu peito não tinha ar.
Destino me pregou peça.
Eu, que vivo em solidão,
Sentindo que ela era minha!

Tinha os olhos suplicantes.
Em meus braços quis afeto
E tinha o corpo tão quente,
Pulsando junto ao meu

Proibido de amar, eu,
Com minha moral dormente,
Como no esterco, um inseto,
Amei por alguns instantes.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

País das maravilhas

Do sabor
a saudade

Do sonho
a sombra

Do sim
o sem

Do nosso
o nojo

...

Da infância
Ao inferno.